MARAÍZA LABANCA
( BRASIL – MINAS GERAIS )
nasceu em 1984, em Belo Horizonte.
É doutora em Literatura Comparada pela UFMG e uma das editoras da Cas’a edições.
Trabalha também com oficinas de escrita literária no Espaço a’mais. De sua autoria, publicou também os livros Refratário (2012), Rés – livro das contaminações (com Erick Costa, 2014) e Partitura (2018).
https://editoraurutau.com/autor/maraiza-labanca
ENTRELINHAS , VERSOS CONTEMPORÂNEOS MINEIROS. Organização: Vera Casa Nova, Kaio Carmona, Marcelo Dolabela. Belo Horizonte, MG: Quixote + Do Editoras Associadas, 2020. 577 p. ISBN 978-85—66236-64—2 Ex. biblioteca de Antonio Miranda
Plissado
pincel retido no gesto que falta
imã em potência
campo plissado
ou pintura destacada
do quadro que sustinha a parede
cai era (música) corpo de
imagem:
areia
homem-lume a vagar no meu seio
relva —
terceira pessoa a escrita
— selva —
o mais belo estado da pedra, era isto:
um universo dois buracos negros
em universo
Berço
a mãe era um objeto estranho:
trazia um alfabeto sujo em sua língua
primeira
um perigo de doença no ar
que falta
era sua tarefa insana — esta sobra —
incabível e ineficaz, uma família,
reacendendo ininterruptamente sobre o corpo raquítico
que nascia
— não nascia —
seu alfabeto sujo
andava às pressas
com o preço que se paga
com o corpo,
— meu filho —
é com o corpo que se paga.
Rhythmus
A gente continua a falar do amor
ainda que eles todos passem por baixo
das pontes, desabados, por baixo dos
olhos, secos de lágrimas; eles passam sob
esse barco, mas são uma única água, como
um sangue que se renova, vivo, entre as veias
e as artérias adentro, e por dentro do ventre, casa,
que e expele mês a mês como para se livrar dele,
podre, feito o amor que passa por debaixo dos corpos,
doído, dos corpos feitos para o abate, como a morte
passa rente à pele, todos os dias, e ao largo
dela, mas a gente não sabe, ou desvia
os olhos, e continua a falar de amor.
Luminiscência
É próprio da beleza que se bate
no lodo — porque logro
é palavra dupla — lufada de corpo —
sem mais a escala
do pavor — tão antiga —
apenas o lume o a pequena
tocha
a espelhar a luz segundo
a temperatura de duas luas
para ver a distância e que
entra
pela lucarna antiga, e nós
como se estivéssemos rezando
somos os satélites da casa
a sua claridade umedecida
e aberta
definitiva
um corte na árvore
a curva na região
de sua cintura.
*
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Página publicada em maio de 2024
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